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Arquitetos: Ferrier Marchetti Studio
- Área: 10350 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Luc Boegly

Descrição enviada pela equipe de projeto. Nossos projetos se concentram na relação do corpo com a cidade, materializando uma estética do movimento. Sempre buscamos uma mobilidade que renove o olhar e permita uma percepção dinâmica dos espaços ao nosso redor. Isso envolve sequências sensoriais singulares, o prazer de se mover coletivamente pelo espaço público e uma nova leitura da paisagem urbana.



A valorização da maquinaria industrial na periferia de Paris - O tão debatido conceito de uso misto não deve se limitar à combinação de moradia, escritórios e comércio. Também é necessário integrar outros tipos de trabalho à cidade, inclusive equipamentos pesados.
Em Orly, o centro de manutenção da linha T9 é um exemplo disso: ele continua visível mesmo à noite, principalmente visto do trem. Aqui se trabalha até tarde e se começa muito cedo. Essa atividade contínua se inscreve na paisagem e participa do espetáculo urbano da Grande Paris. A linha transportará entre 70 e 80 mil passageiros por dia, com bondes circulando a cada quatro ou cinco minutos.

Um equipamento técnico contemporâneo - O Centro de Manutenção e Armazenamento está implantado em Orly, onde os trilhos ferroviários se encontram, na região do Vale do Sena. Essa área faz parte de um sistema paisagístico onde cada elemento, como bosques, zonas úmidas ou áreas naturais, contribui para a preservação da biodiversidade. Mais do que um projeto com paisagismo, trata-se aqui de um verdadeiro projeto de paisagem. A dimensão paisagística não é um complemento, mas sim o elo entre natureza, infraestrutura e urbanidade. O CMA está localizado entre redes ferroviárias e fluviais, voltado à capital e ao futuro centro "Grands Vœux", simbolizando a modernidade de Orly. O conjunto construído e paisagístico se destaca por sua identidade duradoura e atenção aos usuários e ao meio ambiente — um espaço pensado para ser vivido e animado.



A estética do útil - A proposta é pensar uma arquitetura industrial — um edifício técnico e funcional — como um objeto arquitetônico significativo, capaz de se integrar a um bairro em transformação e se tornar um marco urbano. A cobertura "plissada", inspirada nos galpões industriais do século XIX, abriga uma sucessão de hangares com amplas aberturas. Essa solução favorece a iluminação natural e o desempenho energético do conjunto. As áreas técnicas e edificadas são cercadas por paisagens cuidadosamente desenhadas: matas, jardins e alamedas arborizadas oferecem áreas de descanso — inclusive visualmente. A alternância entre espaços funcionais e verdes suaviza o caráter industrial do CMA sem comprometer sua eficiência. A arquitetura industrial já carrega uma característica essencial: sua escala. Em comparação com habitações, equipamentos públicos ou escritórios, trata-se de objetos arquitetônicos de grande porte.

Justaposição de funções - Três tipos de objetos se justapõem aqui: primeiro, naturalmente, os bondes, com sua tecnologia impecável e sua beleza de objetos produzidos em série. Depois, os edifícios, cujo projeto ficou a cargo do Ferrier Marchetti Studio. Por fim, a grande plataforma riscada por trilhos e pontuada por objetos técnicos. A ambição era criar um conjunto paisagístico coerente. A linguagem arquitetônica, buscando afinidade e ressonância entre o edifício e os equipamentos técnicos, utiliza materiais simples, aplicados em sua forma mais honesta. No interior, tudo faz parte de uma visão global, potencializada pela onipresença das vistas e da luz natural. Para quem trabalha ali, é um verdadeiro palácio do bonde. Não há separação entre “decoração” e “funcionalidade”: os elementos estão tão intimamente entrelaçados que se torna difícil distinguir o que foi concebido pelo arquiteto do que foi planejado pelo engenheiro.

Relação com o cliente: o bem público - A experiência bem-sucedida deste projeto demonstra, mais uma vez, a excelência do cliente público. A durabilidade da construção, a generosidade dos espaços, a inserção de pátios e jardins e a consideração pelo conforto dos usuários não foram sacrificadas em nome da economia ou da eficiência. A qualidade do relacionamento com o cliente proporcionou aos engenheiros, empreiteiros e arquitetos uma oportunidade rara: fazer do centro de manutenção de Orly muito mais do que uma simples caixa funcional.

























